Slides de uma conferência de José Delgado Domingos, professor Catedrático do IST.
adenda à conferência por Delgado Domingos:
“Alterações Climáticas: Contradições e Factos Inconvenientes”
"A tese que procurei demonstrar na conferencia da Lisboa E-Nova de 24.01.2008 e que, a pretexto de Ciência se atemorizaram as pessoas com o fantasma do CO2 , conseguindo com isso fazer esquecer os reais problemas que a variabilidade climática põe, bem como fazer esquecer os fundamentais problemas sociais e económicos que o actual modelo de desenvolvimento nos levanta.
O combate às emissões de CO2 e restantes GEE. já foi chamado "O equivalente moral de uma guerra". Tal como numa guerra, põe-se de lado tudo que não interessa aos poderes estabelecidos que seja aprofundado e discutido com o pretexto de tudo concentrar na obtenção da almejada vitória. Chamo a isso um instrumento de controlo social, o qual é tanto mais eficaz quanto mais se confunde com a afirmação de se tratar de uma "verdade indiscutível". Quando uma afirmação deixa de ser discutível, transforma-se numa religião ou numa ideologia e aos “hereges” são assacadas as mais tenebrosas motivações. Isto é bem patente para quem acompanha a discussão lá fora, sobretudo nos EUA, em que o mundo foi dividido nos a favor, nos contra e nos cépticos. Os contra são sumariamente identificados com Bush e todas as suas execráveis politicas, esquecendo que Bush é o campeão da miragem tecnológica da CCS ( Carbon Sequestration and Storage , tão do agrado do lobby do carvão) e dos biocombustíveis de 1ª geração. Uns e outros, na sua larga maioria, dedicam-se ao assassinato de carácter, à identificação dos interesses que supostamente pagam a quem, etc, esquecendo que a questão é basicamente científica e em Ciência o único critério que permite decidir são factos observáveis e quantificáveis e não a suposta autoridade de quem emitiu um juízo subjectivo.
Se a esmagadora maioria dos políticos, dos economistas( incluindo Stern) dos jornalistas e dos autores de blogs, não têm preparação para assimilar e criticar os fundamentos científicos, ficam na inteira dependência daqueles que convertem tais documentos em linguagem que eles percebam. E a linguagem que eles percebem é a das certezas e a das acções práticas decorrentes. O que é significativo é que tais sumários ( os "Summary for Policy Makers") sejam divulgados, discutidos, aprovados e votados linha a linha antes de conhecido e divulgado o relatório que tal sumário era suposto sintetizar! Por exemplo, o Summary do WG-1 foi divulgado em 7 de Fevereiro de 2007, o sumário técnico em Abril, mas o relatório base só o foi em 27 de Novembro de 2007 , poucos dias antes da Conferência de Bali!
Quem não tem preparação/capacidade científica para questionar o fundamento tem como único recurso citar quem supostamente sabe ou citou ... Como um prémio Nobel cujo prémio se deve a trabalhos sobre o genoma humano , ou Al Gore porque recebeu o Nobel da Paz! Cada um pode escolher porque há para todos os gostos e convicções politicas. Ao menos Al Gore sempre vai dizendo que não é cientista mas que um cientista amigo lhe disse...( Segundo a sua mulher, Tipper, a sobrevivência de Al Gore depois da derrota (...eleitoral..) deveu-se muito a ter mergulhado na causa climática."
"Resumindo: Enquanto o combate às emissões de CO2 se traduziu numa mobilização colectiva para a redução da dependência do petróleo, dos combustíveis fósseis e da poluição atmosférica e, em consequência, numa transição para um novo paradigma energético e um novo modelo de desenvolvimento, não senti motivação suficiente para abordar publicamente as minhas reticências aos atropelos a que assistia, tanto mais que sabia as criticas, reacções e ataques pessoais de que iria ser alvo. Todavia, fui constatando que este "combate" às emissões de CO2 se transformava, progressivamente, na legitimação em larga escala de politicas perversas, de que um exemplo é o CCS ( inútil, perigoso e caríssimo) ou o exigência de garantia para o preço mínimo da tonelada de CO2 durante toda a vida das propostas novas centrais nucleares em Inglaterra para que fossem viáveis , ou na especulação criada e manipulada em torno das licenças de emissão de CO2 e da sua bolsa, etc.
Acresce que não tenho conhecimento de que em Portugal alguém tivesse abordado criticamente o relatório original do WG-1. No melhor dos casos, tomou-se o sumário como a "verdade" e sobre ela se construíram cenários, ideologias e políticas. O muito badalado e generosamente financiado "Projecto SIAM", apresentado como exemplo do pioneirismo de Portugal nestas matérias, é um exemplo. Com a minha intervenção espero ter conseguido que, pelo menos alguns, ficassem a saber que existe algo mais do que sumários, “press releases” e messiânicos salvadores da humanidade enquanto fazem negócios em nome do CO2 ( alguns legítimos em si mesmo) . Aliás, é revelador o crescente número de empresas de advogados envolvidas nos aspectos jurídicos do mercado das licenças e bolsa de CO2, e os multi-milhões que movimentam, comparativamente ao que é despendido em novas tecnologias energéticas, aumento de eficiência, redução da dependência dos petróleo/gás e sobretudo na redução das emissões de poluentes atmosféricos, nomeadamente das partículas inaláveis.
Talvez fosse mais prosaico mas bem mais útil e socialmente relevante combater a especulação imobiliária em áreas de REN e RAN, a construção em leitos de cheia, em dunas e arribas, a poluição atmosférica e a dependência do petróleo, do que defender chorudas reparações a quem construiu onde não devia a pretexto de que o desastre meteorológico se deveu a não termos reduzido a tempo as emissões de CO2...
Ainda quanto a Portugal, não podemos deixar de estranhar o facto de nenhum português ser citado, seja a que título for, nos trabalhos ou Comissões do WG1 e que o Governo Português tenha basicamente delegado numa empresa privada a sua representação em muitas das negociações."
"A tese que procurei demonstrar na conferencia da Lisboa E-Nova de 24.01.2008 e que, a pretexto de Ciência se atemorizaram as pessoas com o fantasma do CO2 , conseguindo com isso fazer esquecer os reais problemas que a variabilidade climática põe, bem como fazer esquecer os fundamentais problemas sociais e económicos que o actual modelo de desenvolvimento nos levanta.
O combate às emissões de CO2 e restantes GEE. já foi chamado "O equivalente moral de uma guerra". Tal como numa guerra, põe-se de lado tudo que não interessa aos poderes estabelecidos que seja aprofundado e discutido com o pretexto de tudo concentrar na obtenção da almejada vitória. Chamo a isso um instrumento de controlo social, o qual é tanto mais eficaz quanto mais se confunde com a afirmação de se tratar de uma "verdade indiscutível". Quando uma afirmação deixa de ser discutível, transforma-se numa religião ou numa ideologia e aos “hereges” são assacadas as mais tenebrosas motivações. Isto é bem patente para quem acompanha a discussão lá fora, sobretudo nos EUA, em que o mundo foi dividido nos a favor, nos contra e nos cépticos. Os contra são sumariamente identificados com Bush e todas as suas execráveis politicas, esquecendo que Bush é o campeão da miragem tecnológica da CCS ( Carbon Sequestration and Storage , tão do agrado do lobby do carvão) e dos biocombustíveis de 1ª geração. Uns e outros, na sua larga maioria, dedicam-se ao assassinato de carácter, à identificação dos interesses que supostamente pagam a quem, etc, esquecendo que a questão é basicamente científica e em Ciência o único critério que permite decidir são factos observáveis e quantificáveis e não a suposta autoridade de quem emitiu um juízo subjectivo.
Se a esmagadora maioria dos políticos, dos economistas( incluindo Stern) dos jornalistas e dos autores de blogs, não têm preparação para assimilar e criticar os fundamentos científicos, ficam na inteira dependência daqueles que convertem tais documentos em linguagem que eles percebam. E a linguagem que eles percebem é a das certezas e a das acções práticas decorrentes. O que é significativo é que tais sumários ( os "Summary for Policy Makers") sejam divulgados, discutidos, aprovados e votados linha a linha antes de conhecido e divulgado o relatório que tal sumário era suposto sintetizar! Por exemplo, o Summary do WG-1 foi divulgado em 7 de Fevereiro de 2007, o sumário técnico em Abril, mas o relatório base só o foi em 27 de Novembro de 2007 , poucos dias antes da Conferência de Bali!
Quem não tem preparação/capacidade científica para questionar o fundamento tem como único recurso citar quem supostamente sabe ou citou ... Como um prémio Nobel cujo prémio se deve a trabalhos sobre o genoma humano , ou Al Gore porque recebeu o Nobel da Paz! Cada um pode escolher porque há para todos os gostos e convicções politicas. Ao menos Al Gore sempre vai dizendo que não é cientista mas que um cientista amigo lhe disse...( Segundo a sua mulher, Tipper, a sobrevivência de Al Gore depois da derrota (...eleitoral..) deveu-se muito a ter mergulhado na causa climática."
"Resumindo: Enquanto o combate às emissões de CO2 se traduziu numa mobilização colectiva para a redução da dependência do petróleo, dos combustíveis fósseis e da poluição atmosférica e, em consequência, numa transição para um novo paradigma energético e um novo modelo de desenvolvimento, não senti motivação suficiente para abordar publicamente as minhas reticências aos atropelos a que assistia, tanto mais que sabia as criticas, reacções e ataques pessoais de que iria ser alvo. Todavia, fui constatando que este "combate" às emissões de CO2 se transformava, progressivamente, na legitimação em larga escala de politicas perversas, de que um exemplo é o CCS ( inútil, perigoso e caríssimo) ou o exigência de garantia para o preço mínimo da tonelada de CO2 durante toda a vida das propostas novas centrais nucleares em Inglaterra para que fossem viáveis , ou na especulação criada e manipulada em torno das licenças de emissão de CO2 e da sua bolsa, etc.
Acresce que não tenho conhecimento de que em Portugal alguém tivesse abordado criticamente o relatório original do WG-1. No melhor dos casos, tomou-se o sumário como a "verdade" e sobre ela se construíram cenários, ideologias e políticas. O muito badalado e generosamente financiado "Projecto SIAM", apresentado como exemplo do pioneirismo de Portugal nestas matérias, é um exemplo. Com a minha intervenção espero ter conseguido que, pelo menos alguns, ficassem a saber que existe algo mais do que sumários, “press releases” e messiânicos salvadores da humanidade enquanto fazem negócios em nome do CO2 ( alguns legítimos em si mesmo) . Aliás, é revelador o crescente número de empresas de advogados envolvidas nos aspectos jurídicos do mercado das licenças e bolsa de CO2, e os multi-milhões que movimentam, comparativamente ao que é despendido em novas tecnologias energéticas, aumento de eficiência, redução da dependência dos petróleo/gás e sobretudo na redução das emissões de poluentes atmosféricos, nomeadamente das partículas inaláveis.
Talvez fosse mais prosaico mas bem mais útil e socialmente relevante combater a especulação imobiliária em áreas de REN e RAN, a construção em leitos de cheia, em dunas e arribas, a poluição atmosférica e a dependência do petróleo, do que defender chorudas reparações a quem construiu onde não devia a pretexto de que o desastre meteorológico se deveu a não termos reduzido a tempo as emissões de CO2...
Ainda quanto a Portugal, não podemos deixar de estranhar o facto de nenhum português ser citado, seja a que título for, nos trabalhos ou Comissões do WG1 e que o Governo Português tenha basicamente delegado numa empresa privada a sua representação em muitas das negociações."
1 comment:
e-ko,
Uma série muito interessante de posts! O trabalho do Prof. Delgado Domingos é, desde há muitos anos, fundamental.
Manifesto a minha total concordância com o que dizes no post anterior.
Um beijo.
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