26.8.06

perturbante arte bruta
perturbant art brut

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Tentar compreender a arte bruta de Henry Darger
Essayer de comprendre l'art brut d'Henry Darger

Nas minhas viagens virtuais, percorro muitos sites e blogues de todo o mundo, gosto de aprender, descobrir e surpreender-me, muitas vezes, muito longe do universo das ideias pré-fabricadas ou das opiniões.

Ontem, como faço muitas vezes, entrei no blogue do "le monde" "les lunettes rouges" (blogue sobre a actualidade artística do nosso planeta) e fui surpreendida pelo post (billet) que ali estava editado. Tratava-se da apresentação duma exposição de arte bruta, no museu da "Maison Rouge", em Paris, onde apresentam 80 das 300 ilustrações de Henry Darger. Com a autorização de Marc, o autor do blogue, vou tentar traduzir a atmosfera que ele criou e que tanto me impressionou. A tradução não será feita nas melhores condições, directamente e sem dicionários para verificações. Podem, no entanto, visitar o blogue que é muito interessante: http://lunettesrouges.blog.lemonde.fr/lunettesrouges/

As meninas com pénis do velho Henry

O velho Henry, moreu aos 81 anos num hospício. Trabalhou a lavar pratos na cozinha dum hospital, viveu 40 anos num quarto duma pensão; não tinha herdeiros e deixou todos os seus bens aos donos da sua pensão. Orfão de mãe aos 4 anos, alcunhado de "crazy" desde a sua infância, foi para um orfanato com 8 anos, depois, com 12 anos, foi surpreendido a masturbar-se em público e puzeram-no numa instituição para atrazados mentais, onde parece ter sido vítima das piores sevícias, e de onde ele fugiu com 17 anos quando o pai morreu. Muito devoto, considerado como um "simples" pelos seus vizinhos, apenas teve um amigo, tão marginal como ele, e viveu enclausurado no seu quarto; o seu pedido de adopção de uma menina foi recusado. Tinha uma obsessão pela metereologia.

No dia da sua morte, os seus senhorios entraram no quarto e, no meio da maior desordem, descobriram milhares de páginas e centenas de aguarelas e ilustrações, a sua obra, a história das "Vivian Girls", episódio do que é conhecido como os Reinos do Irreal, causado pela revolta das crianças escravas.

Começou a escrever em 1910, traumatizado pelo drama de uma miúda, raptada e violada (e por ter perdido a fotografia dessa menina, que ele conservava religiosamente), começa a ilustrar a partir de 1918. Darger mostra-nos cenas de grande brutalidade, mas aonde as personagens são angélicas, meninas modelo, de rostos sempre idênticos, sem expressão, sem individualidade. Esses quadros apocalípticos só mostram violência, sevícias, estrangulamentos, ventres abertos. O tema essencial é a luta entre o bem e o mal, do cristianismo e do paganismo, meninas puras e horríveis soldados inimigos. Todos os desenhos são tratados em tons claros e luminosos. Darger desenhava mal e cola e copia motivos de catálogos ou livros infantis apanhados em caixotes de lixo.

Demasiados índices apontam para a incrível complexidade psicológica deste homem. Do lado do bem, ele só representa, praticamente, meninas na pré puberdade, quase sempre nuas, exibindo um pénis de rapaz (apenas é visível uma erecção em toda a exposição) e por vezes, com cornos nas cabeças e até uma cauda de dragão no fim das costas.

Que pulsões sexuais reprimidas habitavam este homem ? Terá ele tido uma vida secreta ? Terá ele cometido estes crimes ? Quem, escritor, analista, puderá nos elucidar sobre como lhe foi possível sublimar nesta obra obsessional, estranha e perturbadora. Uma das personagens chama-se General Judas Darger.

Henry Darger (1892-1973) nasceu em Chicago, nos Estados Unidos.

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